Rock em Goiânia sempre foi pesado. Metal e punk e grunge e stoner o que não impede que, eventualmente surjam bandas que se dediquem a um conteúdo mais 'artsy'.
Departamento no estúdio Katzenmusik em 1989 Alexandre, Jadson, Marina, Vladimir (cabisbaixo) e Clayton |
O grupo que ficou conhecido como DEPARTAMENTO foi criado em 1988 por Vladimir Safatle, na época entre 15 e 16 anos. Vladimir queria um grupo fortemente experimental e com presença feminina. Para vocalista chamou Glaucia Prado - que foi a primeira garota visualmente PUNK de Goiânia - Clayton Baroni no baixo, Alexandre Nascimento na bateria e para a guitarra o Mandioca.
Clayton, Jadson, Vladimir e Alexandre |
Na verdade o grupo chamava-se Departamento de Testes (entendedores entenderão) e o show de estréia (8/10/1988) foi marcado para acontecer no auditório da Faculdade de Direito da UFG.
Primeiro show do Departamento |
Glaucia sai do grupo duas semanas antes do primeiro show da banda e Vladimir, desesperado, sai pela cidade procurando 'alguém' que concordasse em se apresentar com um grupo de garotos, todos na faixa dos 16 anos e acaba telefonando para mim ( 22 anos) e o convidei a ir até meu apartamento para conversarmos.
de cima pra baixo: Vladimir e Jadson, Alexandre e Clayton |
Vladimir me causou uma excelente impressão. Muito sério, inteligente e articulado trouxe uma fita cassete com um ensaio da banda (mal) gravado e nos sentamos na sala a ouvir as faixas que eram todas instrumentais, Vladimir tinha as letras (escritas por ele) datilografadas em papel ofício, mas ele não se referia a elas como letras e sim como 'relatórios'.
Vladimir (em pé a esquerda), Alexandre, Clayton e Jadson |
Nenhuma banda em Goiânia naquele 1988 tinha uma fita demo de seu trabalho (exceto Quarto Mundo, 17º Sexo e Restos da Cultura Proibida que já estavam extintas) o que me chamou a atenção, geralmente as bandas te chamavam para um ensaio e você se virava lá mesmo, na tora.
Fita de rolo: Demo dos Restos. |
Após ouvir algumas faixas eu comentei que me lembrava Restos da Cultura Proibida e Vladimir não gostou muito, mas acredito que era o que ele queira mesmo, o RESTOS era a banda cult da galera post-punk na cidade e a turminha por volta dos 15 anos de idade compunha as fileiras dessa cena no final da década.
Arte do livreto/folder distribuído na entrada do teatro ao público pagante |
Depois da audição sentamo-nos na escada do prédio e falamos sobre filosofia e literatura me deixando ainda mais intrigado com aquele adolescente tão lúcido e tão maduro.
Cartaz e ingresso por Marcelo Solá
Projeto Fragmentos de Uma Subcultura 2ª apresentação
Topei a empreitada e durante uma semana ensaiamos numa esquina do setor Aeroporto e colamos cartazes pela cidade.
Cartaz Fragmentos de Uma Subcultura por Marcelo Solá 1ª apresentação |
Eu me sentia como 'um pinto no lixo' naquela banda porque pude experimentar tudo aquilo que nunca tinha podido nas minhas outras 2 bandas nos anos 80.
Arte original de cartaz |
Nossa estréia foi interessante, tivemos certo público que estava sentado nas cadeiras do auditório o que emprestou um ar de teatro à nossa apresentação e não uma atmosfera de 'show de rock'. A 'velha guarda' do post-punk goianiense também apareceu, curiosa para conferir o que o Jadson estava fazendo com aquele bando de moleques.
Depois desse show permaneci no grupo, mas o guitarrista Mandioca saiu e resolvemos continuar a banda sem guitarra mesmo.
Folder distribuído aos pagantes: Departamento e Casa dos Sonhos |
Vladimir, que agora tinha efetivamente uma banda ativa na cidade tratou de dar o próximo passo: agregar uma dançarina ao nosso 'espetáculo' (sim, a ideia não era fazer SHOW DE ROCK)e passaram pelo grupo Ecilene Camargo, Cassia Queiroz e Adriana que foi quem ficou até o fim.
Outra garotas estiveram conosco como Cíntia que era responsável pelas luzes e Ludmila Câmara que fazia a produção.
Adriana, dançarina do Departamemento
agora é Ekanta Jake, DJ de psytrance
Logo depois junta-se a nós a bela Marina Arantes nos backing vocals e tornamo-nos um grupo de arte ou pelo menos era como nos víamos.
Por influência de grupos como Cabaret Voltaire e New Order eu e Vladimir cogitávamos adotar uma bateria eletrônica (e demitir Alexandre), mas isso nunca chegou a se concretizar.
Alexandre tocava em um grupo de samba e Clayton era jazzista o que nos permitiu compor tango, bolero, samba e house music, disfarçar nossas deficiências técnicas, mas nunca chegamos ao tão sonhado industrial que era nossa obsessão naquele momento.
No Mephisto Pub com a banda SHED |
Nossa vida era dedicada à boemia e nos tornamos um grupo bastante fechado. Clayton namorava com Adriana e eu com Marina o que trouxe os membros da banda para uma convivência extremamente próxima. Saíamos sempre juntos e experimentava-mos as delícias do desregramento em conjunto. Íamos ao cinema juntos, tomáva-mos drogas juntos (Trecho do livro: "Entre nós sempre houve os que usavam muita droga, os que usavam pouco e os que nada usavam"), líamos e emprestávamos livros uns aos outros.
Poucas pessoas eram 'permitidas' em nosso círculo, entre elas a já citadas Ludmila e Cíntia, a estudante de filosofia e atriz Leila Aquino ou seja mulheres.
Capa do livro LEADING LADIES |
Mulheres também passaram a ser tema de nossos cartazes e divulgação. Vladimir tinha o livro Leading Ladies com as 50 mais inesquecíveis atrizes da era dos estúdios que era nossa inspiração.
Apresentação na Multiarte galeria de arte. |
Em algum momento de 1988 o Restos da Cultura Proibida (agora em Ribeirão Preto) perde o guitarrista Woodgard e o vocalista Afonso, mas o tecladista Edson Lenine e o contrabaixista Joca Vita resolvem continuar o trabalho juntamente com a dançarina Iracema com o nome trocado para RESTOS DA C.P. o que não afetou em nada a recepção do público que se referia à banda como simplesmente RESTOS.
Restos da CP: Edson Lenine e Joca Vita |
É como eu escrevi no livro quando o Departamento e o Restos se tornam bandas irmãs e fazendo tudo junto.
1989 é o ano dos 'projetos' que eram shows multimídia onde as duas bandas apresentavam dança, mímica, artes visuais, vídeo, poesia e música sempre em teatros e auditórios onde as pessoas ficavam sentadas assistindo a quaisquer ações que podíamos imaginar e realizar.
cartaz |
Também foi o ano em que um outro grupo surge com serras elétricas, brocas,sucata e sintetizadores: O Mademoiselle Docteur que acabou depois de duas ou três apresentações. Eram sérios candidatos a banda irmã do Departamento, mas 89 foi o ano em que a cena post-punk de Goiânia iniciava sua saída de cena. As principais cabeças organizadoras dessa cena começaram a se mudar para outras cidades.
Último show do Departamento com Mademoiselle Docteur |
Ao projeto DAS CORES AO SÉCULO XXI (que deu nome ao livro) considero como o canto de cisne dessa cena que envolvia também as bandas Flores Para Alice, Shed e The Burbs. essas bandas acabaram pouco depois sendo que os BURBS tiveram sua primeira formação de 1989 a 1993 e outras formações que chegaram até 2006 sob a batuta do Paulo Sérgio que também é ex-integrante do Mademoiselle Docteur.
A última apresentação do Departamento ocorreu no mesmo local da primeira: A faculdade de direito da UFG.
Cartaz do projeto ARTE E DESENVOLVIMENTO |
Ao escrever o livro nossa intenção era deixar um pouco desse clima romântico registrado e funcionou.
Jornal anuncia o projeto Das Cores Ao Século XXI: mescla de dois projetos, um do Restos e outro do Departamento. |
Temos um documentário em edição e também um CD com 30 faixas de 7 bandas do período, mas vamos aumentar o numero de bandas assim que novas velhas bandas forem desenterradas.
capa do livro DAS CORES AO SÉCULO XXI |
CD com 30 faixas de 7 bandas do livro |
Adquirir o livro e CD aqui.(leia abaixo)
ATENÇÃO: Alteração na informação sobre o CD.
Os correios tem dificultado o envio de CDs com informações desconexas que variam de funcionário para funcionário.
Informações no site dos correios não condizem com o que os funcionários dizem no balcão no momento do envio.
Então enviamos apenas a capa do CD com um link para baixar as 30 músicas.
Entendeu? Se não entendeu entre em contato aqui. (ABRIRÁ OUTRA PÁGINA).
A CAPA e o link não terão custo, você paga apenas pelo livro.
---- SEGUE 3 VÍDEOS:
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Mais vídeos no Bobo Canal
Uma música do Departamento para vocês:
Eu e Clayton (baixista do Departamento) conversando pelo Skype.
Introdução do documentário:
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