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terça-feira, 7 de maio de 2019

Departamento - grupo gótico-experimental em Goiânia 1988/89

Rock em Goiânia sempre foi pesado. Metal e punk e grunge e stoner o que não impede que, eventualmente surjam bandas que se dediquem a um conteúdo mais 'artsy'.

Departamento no estúdio Katzenmusik em 1989
Alexandre, Jadson, Marina, Vladimir (cabisbaixo) e Clayton

O grupo que ficou conhecido como DEPARTAMENTO foi criado em 1988 por Vladimir Safatle, na época entre 15 e 16 anos. Vladimir queria um grupo fortemente experimental e com presença feminina. Para vocalista chamou Glaucia Prado - que foi a primeira garota visualmente PUNK de Goiânia - Clayton Baroni no baixo, Alexandre Nascimento na bateria e para a guitarra o Mandioca.

Clayton, Jadson, Vladimir e Alexandre

Na verdade o grupo chamava-se Departamento de Testes (entendedores entenderão) e o show de estréia (8/10/1988) foi marcado para acontecer no auditório da Faculdade de Direito da UFG.

Primeiro show do Departamento

Glaucia sai do grupo duas semanas antes do primeiro show da banda e Vladimir, desesperado, sai pela cidade procurando 'alguém' que concordasse em se apresentar com um grupo de garotos, todos na faixa dos 16 anos e acaba telefonando para mim ( 22 anos) e o convidei a ir até meu apartamento para conversarmos.

de cima pra baixo: Vladimir e Jadson, Alexandre e Clayton

Vladimir me causou uma excelente impressão. Muito sério, inteligente e articulado trouxe uma fita cassete com um ensaio da banda (mal) gravado e nos sentamos na sala a ouvir as faixas que eram todas instrumentais, Vladimir tinha as letras (escritas por ele) datilografadas em papel ofício, mas ele não se referia a elas como letras e sim como 'relatórios'.

Vladimir (em pé a esquerda), Alexandre, Clayton e Jadson

Nenhuma banda em Goiânia naquele 1988 tinha uma fita demo de seu trabalho (exceto Quarto Mundo, 17º Sexo e Restos da Cultura Proibida que já estavam extintas) o que me chamou a atenção, geralmente as bandas te chamavam para um ensaio e você se virava lá mesmo, na tora.

Fita de rolo: Demo dos Restos.

Após ouvir algumas faixas eu comentei que me lembrava Restos da Cultura Proibida e Vladimir não gostou muito, mas acredito que era o que ele queira mesmo, o RESTOS era a banda cult da galera post-punk na cidade e a turminha por volta dos 15 anos de idade compunha as fileiras dessa cena no final da década.

Arte do livreto/folder
distribuído na entrada do teatro ao público pagante

Depois da audição sentamo-nos na escada do prédio e falamos sobre filosofia e literatura me deixando ainda mais intrigado com aquele adolescente tão lúcido e tão maduro.

Cartaz e ingresso por Marcelo Solá
Projeto Fragmentos de Uma Subcultura 2ª apresentação

Topei a empreitada e durante uma semana ensaiamos numa esquina do setor Aeroporto e colamos cartazes pela cidade.

Cartaz Fragmentos de Uma Subcultura por Marcelo Solá
1ª apresentação

Eu me sentia como 'um pinto no lixo' naquela banda porque pude experimentar tudo aquilo que nunca tinha podido nas minhas outras 2 bandas nos anos 80. 

Arte original de cartaz

Nossa estréia foi interessante, tivemos certo público que estava sentado nas cadeiras do auditório o que emprestou um ar de teatro à nossa apresentação e não uma atmosfera de 'show de rock'. A 'velha guarda' do post-punk goianiense também apareceu, curiosa para conferir o que o Jadson estava fazendo com aquele bando de moleques.

Depois desse show permaneci no grupo, mas o guitarrista Mandioca saiu e resolvemos continuar a banda sem guitarra mesmo.

Folder distribuído aos pagantes: Departamento e Casa dos Sonhos

Vladimir, que agora tinha efetivamente uma banda ativa na cidade tratou de dar o próximo passo: agregar uma dançarina ao nosso 'espetáculo' (sim, a ideia não era fazer SHOW DE ROCK)e passaram pelo grupo Ecilene Camargo, Cassia Queiroz e Adriana que foi quem ficou até o fim.

Outra garotas estiveram conosco como Cíntia que era responsável pelas luzes e Ludmila Câmara que fazia a produção.


Adriana, dançarina do Departamemento
agora é Ekanta Jake, DJ de psytrance

Logo depois junta-se a nós a bela Marina Arantes nos backing vocals e tornamo-nos um grupo de arte ou pelo menos era como nos víamos.

Por influência de grupos como Cabaret Voltaire e New Order eu e Vladimir cogitávamos adotar uma bateria eletrônica (e demitir Alexandre), mas isso nunca chegou a se concretizar.

Alexandre tocava em um grupo de samba e Clayton era jazzista o que nos permitiu compor tango, bolero, samba e house music, disfarçar nossas deficiências técnicas, mas nunca chegamos ao tão sonhado industrial que era nossa obsessão naquele momento.

No Mephisto Pub com a banda SHED

Nossa vida era dedicada à boemia e nos tornamos um grupo bastante fechado. Clayton namorava com Adriana e eu com Marina o que trouxe os membros da banda para uma convivência extremamente próxima. Saíamos sempre juntos e experimentava-mos as delícias do desregramento em conjunto. Íamos ao cinema juntos, tomáva-mos drogas juntos (Trecho do livro: "Entre nós sempre houve os que usavam muita droga, os que usavam pouco e os que nada usavam"), líamos e emprestávamos livros uns aos outros.

Poucas pessoas eram 'permitidas' em nosso círculo, entre elas a já citadas Ludmila e Cíntia, a estudante de filosofia e atriz Leila Aquino ou seja mulheres.

Capa do livro LEADING LADIES

Mulheres também passaram a ser tema de nossos cartazes e divulgação. Vladimir tinha o livro Leading Ladies com as 50 mais inesquecíveis atrizes da era dos estúdios que era nossa inspiração.

Apresentação na Multiarte galeria de arte.

Em algum momento de 1988 o Restos da Cultura Proibida (agora em Ribeirão Preto) perde o guitarrista Woodgard e o vocalista Afonso, mas o tecladista Edson Lenine e o contrabaixista Joca Vita resolvem continuar o trabalho juntamente com a dançarina Iracema com o nome trocado para RESTOS DA C.P. o que não afetou em nada a recepção do público que se referia à banda como simplesmente RESTOS.

Restos da CP: Edson Lenine e Joca Vita

É como eu escrevi no livro quando o Departamento e o Restos se tornam bandas irmãs e fazendo tudo junto.

1989 é o ano dos 'projetos' que eram shows multimídia onde as duas bandas apresentavam dança, mímica, artes visuais, vídeo, poesia e música sempre em teatros e auditórios onde as pessoas ficavam sentadas assistindo a quaisquer ações que podíamos imaginar e realizar.

cartaz

Também foi o ano em que um outro grupo surge com serras elétricas, brocas,sucata e sintetizadores: O Mademoiselle Docteur que acabou depois de duas ou três apresentações. Eram sérios candidatos a banda irmã do Departamento, mas 89 foi o ano em que a cena post-punk de Goiânia iniciava sua saída de cena. As principais cabeças organizadoras dessa cena começaram a se mudar para outras cidades.

Último show do Departamento com Mademoiselle Docteur

Ao projeto DAS CORES AO SÉCULO XXI (que deu nome ao livro) considero como o canto de cisne dessa cena que envolvia também as bandas Flores Para Alice, Shed e The Burbs. essas bandas acabaram pouco depois sendo que os BURBS tiveram sua primeira formação de 1989 a 1993 e outras formações que chegaram até 2006 sob a batuta do Paulo Sérgio que também é ex-integrante do Mademoiselle Docteur.



A última apresentação do Departamento ocorreu no mesmo local da primeira: A faculdade de direito da UFG.

Cartaz do projeto ARTE E DESENVOLVIMENTO

Ao escrever o livro nossa intenção era deixar um pouco desse clima romântico registrado e funcionou.

Jornal anuncia o projeto Das Cores Ao Século XXI:
mescla de dois projetos, um do Restos e outro do Departamento.

Temos um documentário em edição e também um CD com 30 faixas de 7 bandas do período, mas vamos aumentar o numero de bandas assim que novas velhas bandas forem desenterradas.

capa do livro DAS CORES AO SÉCULO XXI
CD com 30 faixas de 7 bandas do livro

Adquirir o livro e CD aqui.(leia abaixo)

ATENÇÃO: Alteração na informação sobre o CD.

Os correios tem dificultado o envio de CDs com informações desconexas que variam de funcionário para funcionário.

Informações no site dos correios não condizem com o que os funcionários dizem no balcão no momento do envio.

Então enviamos apenas a capa do CD com um link para baixar as 30 músicas. 

Entendeu? Se não entendeu entre em contato aqui. (ABRIRÁ OUTRA PÁGINA).

A CAPA e o link não terão custo, você paga apenas pelo livro.

---- SEGUE 3 VÍDEOS

Mais vídeos no Bobo Canal



Uma música do Departamento para vocês:




Eu e Clayton (baixista do Departamento) conversando pelo Skype.



Introdução do documentário:







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